Uma grande missão - investir nos jovens

Recentemente, mais precisamente no dia 19/03/2006, foi exibido pela TV Globo um documentário que expôs uma das facetas mais cruéis em que está submetida uma parcela dos jovens do nosso país. Sem recorrer ao melodrama ou a explicações sociológicas, a peça produzida pelo rapper MV Bill e o produtor Celso Athayde, denominada de "Falcões - Meninos do Tráfico", retrata o cotidiano de garotos empregados por traficantes em favelas de diversas cidades brasileiras.

A veiculação do documentário no Fantástico causou impacto nacional, certamente não pelo conteúdo ter sido considerado novidade. A utilização de meninos como mão-de-obra para as quadrilhas e a "lei do cão" imposta nas favelas por chefes do crime são fatos bastante conhecidos da sociedade. O que impressionou foi o realismo com que foi exposta essa tragédia social. Inúmeros livros já foram lançados com histórias não menos impressionantes e não foi dada a mínima importância. É óbvio que vivemos em uma sociedade na qual a linguagem visual tem grande apelo. A nossa sociedade é assim, tem que ver para crer.

Embora o problema seja complexo e de difícil solução, ao menos algumas medidas necessárias para debelar essa mazela são bastante conhecidas. O tráfico tende a prosperar nos espaços deixados vagos pelo Estado e pela família. É preciso ocupar estes espaços. É preciso investir nos jovens.

A educação é uma maneira efetiva de lutar contra a pobreza, de construir democracias eficientes e sociedades voltadas para uma cultura de paz. Representa um investimento que colabora para o desenvolvimento econômico e social de países e comunidades. A história tem demonstrado que nenhum país conseguiu se desenvolver sem investir na educação do seu povo.

Todavia, comumente são excluídos da educação formal: meninas e meninos trabalhadores, as crianças que vivem na rua, portadores de deficiências, minorias étnico-raciais e vítimas de conflitos ou desastres naturais. A UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura(fundada em 1945) - vem trabalhando em colaboração com os governos para que as escolas formais sejam abertas para estes grupos de excluídos. Ademais, está desenvolvendo mecanismos para chegar a essas crianças e adultos por meio de iniciativas de educação não-formal, também em colaboração com organizações não-governamentais e outras agências de desenvolvimento.

Para a UNESCO, o estabelecimento de vínculos entre instituições da sociedade civil e escolas da rede oficial, visando o atendimento de crianças em situações de exclusão social é um tema de transcendental importância. Diversos projetos promovem o aprendizado de habilidades práticas, como o processamento de alimentos, a reciclagem, ou modalidades alternativas de educação, entre as quais se incluem os cursos supletivos e os de artes e ofícios.

É exatamente neste campo que o Lions Clube de Ilha Solteira presta um valoroso serviço. E as vezes nem nos damos conta. Os projetos sociais voltados para infância e juventude têm sido, talvez, a principal contribuição do nosso clube a sociedade ilhense. São três programas em andamento: Programa SOS Bombeiros(para jovens em situação de exclusão social), Legião Mirim(para o adolescente aprendiz) e LEO Clube(para formação de lideranças). Sendo os dois primeiros por meio de parcerias com os Governos Estadual e Municipal.

O Programa SOS Bombeiros atente 40 crianças, entre 09 e 14 anos. O foco é o resgate a cidadania. Foi lançado em Ilha Solteira no ano de 2002. O projeto tem o apoio do Governo do Estado(R$38.400,00/ano) e da Prefeitura Municipal (fornece refeições). As atividades são desenvolvidas por intermédio de funcionários da Legião Mirim - dois educadores sociais e uma assistente social - também conta com a participação de membros do Corpo de Bombeiros. O principal objetivo é oferecer apoio e oportunidade para jovens de famílias carentes que estejam vivendo situações de risco social como evasão escolar, conflitos familiares, envolvimento com drogas, entre outras situações que possam comprometer o desenvolvimento de futuros cidadãos. Os jovens participam de atividades extracurriculares de segunda a sexta-feira, nos períodos da manhã e tarde (alternados de acordo com o horário escolar). As aulas teóricas acontecem numa sala da Legião Mirim e as aulas práticas acontecem na guarnição do Corpo de Bombeiros. Técnicas de prevenção e combate a incêndios e noções de primeiros-socorros são algumas das aulas técnicas ministradas pelo Corpo de Bombeiros. O propósito é conseguir destinar a essas crianças uma atividade educativa que preencha o tempo ocioso e também incentive cada participante a aprender coisas novas que acrescentem algo a seu futuro.

A Legião Mirim atende 94 adolescentes, entre 14 e 18 anos. Existem mais 22 jovens na lista de espera. Seu foco é o menor aprendiz. Contribui para a formação e o engajamento profissional do adolescente carente. Ao longo dos seus quase trinta anos de existência (Foi fundada em Pereira Barreto, em 16/06/1976. Uma divisão veio para Ilha Solteira em outubro de1984) estima-se que tenha atendido aproximadamente 4.500 jovens. Foi declarada de utilidade pública municipal( em 1979 em Pereira Barreto e em 1993 em Ilha Solteira), estadual(2002) e federal(2003). Foi certificada em 2003 pelo Conselho Nacional de Assistência Social como entidade de fins filantrópicos. Conta com uma equipe de oito funcionários: uma coordenadora pedagógica e administrativa, uma assistente social, uma escrituraria, um auxiliar administrativo, dois educadores sociais, um funcionário para serviços gerais e uma auxiliar de cozinha. Além desses, conta com colaboração de três estudantes/estagiários: um de administração de empresa e dois de serviço social. A dotação orçamentária anual é de aproximadamente R$65.300,00. Sendo, R$44.000,00 proveniente da subvenção da Prefeitura Municipal(Deverá sofrer uma redução de R$4.000,00 a partir junho), R$16.800,00 de taxa de administração(valor pago pelas empresas contratantes) e R$4.500,00 arrecadados em promoções.

Temos também o LEO Clube. Constituído de jovens articulados, inteligentes, bem informados e engajados socialmente. Neste caso, o foco é diferente, mas não menos importante. Pois, estes jovens também estão expostos a uma série de riscos sociais. Vamos divagar um pouco.

Atualmente existe uma grande parcela de jovens que está exposta desde muito cedo a uma grande quantidade de informação. O conhecimento está sempre ali, à distância de poucos toques e tecladas dos dedos. O jovem aprende, de forma surpreendente e precoce, a lidar com várias fontes de informação ao mesmo tempo. Ele funciona como uma grande antena, sempre ligada, sempre captando. E faz tudo isso muito bem.

Todavia, o que se vê é que muito pouco dessa informação é aproveitada pelo jovem para a construção de um mundo melhor e mais seguro para ele mesmo. Não que a informação não esteja ali, fincada de forma definitiva em seus neurônios. Mas, muitas vezes, ela é esquecida ou propositadamente abandonada, ali mesmo, dentro da cabeça. Do saber para o fazer, cria-se um abismo, diversas vezes, intransponível. E essa distância pode colocar o jovem cara a cara com o risco. Ele pode caminhar para o perigoso caminho das drogas. E assim, com seu vício alimentar e ampliar a legião de falcões – os meninos do tráfico.

Como trabalhar a informação de maneira que ela seja acessada e utilizada na hora em que for necessária? Se apenas a informação e a razão não parecem segurar o ímpeto desafiador e imprudente do jovem, o que fazer? As apostas se voltam para o impreciso e pantanoso mundo das emoções. Pode ser que aí repouse a chave para o entendimento do que se passa.

Os tempos modernos, nesse aspecto, também são mais cruéis. Talvez algumas décadas atrás, descontados certos mecanismos de controle social mais rígidos, o grau de transgressão entre os jovens fosse muito próximo do que é hoje. Mas o mundo era menos agressivo e menos violento. As drogas menos disponíveis e menos potentes, os carros menos velozes e em menor quantidade, as ruas mais tranqüilas, a vida mais calma e menos competitiva. Tudo isso, arranjado de outra maneira, em pleno século XXI, aproxima o jovem do risco.

Mas o paradigma continua. Se hoje não existem limites em nossa capacidade de gerar informação, há um limite claro em nossa possibilidade de transformar essa informação em objeto prático de uso e proteção da vida dos jovens. Algumas pistas são claras: a emoção tem peso fundamental nessa equação, a informação deve ultrapassar o campo da razão, o jovem de hoje, precoce e antenado, não aceita um discurso pronto e acabado, a simples proibição ou a radicalização de limites e regras é inoperante no mundo atual e alguns valores fundamentais para a vida ficaram atolados na pressa e na competição do mundo atual.

Um caminho que tem-se mostrado interessante para o jovem com esse perfil é o LEO Clube. O LEO Clube foi forjado encima de uma crença de que os jovens devem também realizar serviços comunitários.

A intenção é que o LEO Clube sirva a comunidade e, ao mesmo tempo, desenvolva nos sócios as qualidades de liderança, lealdade escolar, realizações escolásticas, responsabilidade individual, igualdade, honestidade e respeito ao próximo. O LEO Clube deve ser encarado como uma "escola de cidadãos", que prepara os jovens para se tornarem líderes em suas comunidades. Atualmente existem cerca de 5.400 LEO Clubes, com aproximadamente 135.000 sócios, espalhados por 138 países.

O LEO Clube de Ilha Solteira foi fundado em 2001. Atualmente possui 40 sócios, sendo 26 ativos e 14 forâneos, com idade entre14 e 28anos. Estima-se que já tenham passado mais 120 jovens pelo nosso LEO Clube.

Finalizando, estes três programas – SOS Bombeiros, Legião Mirim e LEO Clube – demonstram claramente que o LIONS Clube de Ilha Solteira investe muito na juventude. Talvez seja essa nossa vocação e principal missão em nosso município. Se for realmente este o sentimento do nosso clube, precisamos deixar isto bem claro para o povo ilhense.

Precisamos levantar bem alto esta bandeira.

Precisamos utilizar uma linguagem visual mais forte.

Precisamos estampar o símbolo do LIONS nas camisetas desses jovens.

Precisamos nas próximas campanhas e eventos cívicos, em praça pública, colocar lado a lado o LIONS Clube e os jovens do SOS Bombeiros, Legião Mirim e LEO Clube, irmanados formando, todos juntos, uma única e grande família. A família do LIONS Clube de Ilha Solteira.